Doença de Chagas 1. NOÇÕES GERAIS. Histórico Carlos Chagas: A doença de Chagas ou tripanosomíase americana foi descoberta pelo médico sanitarista Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas - Carlos Chagas - em 1909. Este brasileiro descobriu a doença e descreveu praticamente todos os seus aspectos. Quando Carlos Chagas realizava uma campanha contra a malária que atingia operários na construção de um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil, ao norte de Minas Gerais, ao fazer exames de uma menina doente, encontrou tripanosomos em seu sangue. Ao examinar posteriormente as fezes de insetos existentes na região e o sangue de animais mamíferos, constatou também a presença dos mesmos parasitas. Desta forma, Carlos Chagas pode descrever o agente causador, o transmissor e o modo de transmissão da doença, como também comprovar a existência de vertebrados que são reservatórios silvestres e domésticos do parasita, esclarecendo assim os aspectos básicos da epidemiologia da doença. Definição da doença: A doença de Chagas é uma infecção transmissível causada por um parasita que circula no sangue e ataca o coração, bem como órgãos do aparelho digestivo (esôfago e intestino). Sua transmissão exige a participação de um vetor, o triatomíneo conhecido pelo nome de barbeiro, fincão, chupança entre outras dependendo da região. É uma doença do continente americano (sul dos Estados Unidos até a Argentina). Transmissores: São artrópodes da classe Insecta, ordem Hemiptera, família Reduviidae e subfamília Triatominae. Sugam sangue (hematofágos) em todas as fases de seu ciclo evolutivo. Vivem em média entre um a dois anos, com evolução de ovo, ninfa e adulto, com grande capacidade de reprodução e, dependendo da espécie, com intensa resistência ao jejum. Ecologia e distribuição. Os triatomíneos têm ampla distribuição geográfica no Novo Mundo, desde os Estados Unidos até o sul do Chile e Argentina, existindo espécies que são tipicamente silvestres; e das 118 espécies conhecidas, 105 são do Novo Mundo. Todas as espécies são vetoras em potencial para o Trypanosoma cruzi, mas seis têm importância epidemiológica na América do Sul: Triatoma infestans, T. brasiliensis, T. dimidiata, T. sordida, P. megistus e Rhodnius prolixus. A espécie vetora mais importante, devido ao seu hábito quase que estritamente doméstico e também com a mais extensa área de distribuição, é o T. infestans, encontrado na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. Em algumas localidades do sul do Brasil (Rio Grande do Sul), sul do Peru, Bolívia e algumas localidades do noroeste da Argentina, T. infestans também tem hábito peridoméstico, ocupando galinheiros, currais etc. As colônias em ecótopos artificias têm tendência a se concentrarem nas partes mais altas da parede. Neste gênero, Triatoma, um exemplo típico é dado pelo T. arthurneivai que, habita fendas de pedras e está associado a lagartos e roedores. É encontrado no Brasil nos estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo. No estado de São Paulo, Rodrigues et al. (1992) encontraram adultos da referida espécie em ecótopos artificiais e com infecção natural pelo T. cruzi. Ainda no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, no Uruguai e no norte da Argentina encontra-se outra espécie T. rubrovaria, tipicamente silvestre que convive com roedores em ambientes pedregosos. Apresenta alto índice de infecção natural e invade os domicílios principalmente no verão. Na Argentina temos mais duas espécies deste grupo que são T. eratyrusiformis e T. patagonica: criam-se em lugares pedregosos e alimentam-se de pequenos roedores, mas atacam o homem e os animais domésticos à noite. T. brasiliensis com altas taxas de infecção pelo T. cruzi é o vetor mais importante no nordeste do Brasil, e pode ser encontrado com alguma freqüência em domicílios. Tem hábitos silvestres e peridomiciliares, onde está associado com abrigo de cabras, galinheiros e ecótopos rochosos; no peridomicílio e domicílio tem as aves como principal fonte alimentar, seguidas por humanos. A segunda espécie vetora é P. megistus, sendo domiciliada em algumas regiões, peridomiciliar e silvestre em outras. Também tem vasta distribuição geográfica, distribui-se desde as Guianas até a Argentina. É a espécie responsável pelos focos mais intensos da endemia chagásica em Minas Gerais e Bahia (Brasil). Tem hábito silvestre no centro do Brasil e leste do Paraguai e está associado a Didelpbideos, motivo pelo qual os índices de infecção para T. cruzi são elevados. Invadem ocasionalmente domicílios e peridomicílios onde se colonizam com facilidade. P. geniculatus, espécie silvestre que também invade ocasionalmente ecótopos artificiais e tem ampla distribuição geográfica, esta associada a animais com hábitos terrestres (buracos), como é o caso dos tatus. Pode-se citar ainda o P. diasi com distribuição na Bolívia e Brasil nos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, ocorrendo neste último estado na região da caatinga. P lutzi no nordeste brasileiro e P. tupynambai no Rio Grande do Sul e Uruguai são espécies que nos últimos anos têm sido encontradas com freqüência nas habitações humanas. T. sordida geralmente é encontrada em ecótopos silvestres e no peridomicílio, invade com freqüência o domicílio, mas é considerada espécie secundária. Tem distribuição no Brasil Central (cerrado), partes do Paraguai. noroeste da Argentina, Uruguai e Bolívia. Tem sido encontrada com baixa taxa de infecção natural, a qual está associada a roedores. T. dimidiata freqüenta o domicílio e é encontrada em diversas tocas silvestres, tais como rocas, grutas ocupadas por morcegos e ocos de arvores, sendo um importante vetor da América Central, México, Colômbia, Equador e norte do Peru. Outro gênero que pertence a este grupo, cujos adultos invadem ecótopos artificiais, são algumas espécies de Rhodnius, principalmente R. domesticus, que é encontrado na região litorânea do Brasil, R. pictipes nas regiões norte e centro-oeste do Brasil e o R. brethesi, com distribuição no norte do Brasil e Venezuela, tem hábitos silvestres e habita palmeiras de piaçaba (Leopoldinia piassaba), ataca o homem com avidez e, nos últimos anos, tem invadido com freqüência ecótopos artificiais. R. prolixus é a espécie vetora mais importante da Colômbia e Venezuela, onde tem hábito doméstico, sendo responsável pela transmissão natural da Doença de Chagas. Também é importante em algumas partes da América Central, particularmente em El Salvador, Guatemala e Honduras. No ambiente domiciliar, R. prolixus alimenta-se principalmente de sangue humano e de aves, embora utilize também, como fonte alimentar, cães e gatos. No ambiente silvestre, faz uso de marsupiais e roedores como fonte de alimento. R. pallescens é importante vetora no Panamá, invade casas com freqüência formando colônias e é encontrada também no peridomicílio e em ambientes silvestres em palmeiras. As populações domésticas na área central do Panamá têm como fonte alimentar o homem (59%), seguido por marsupiais e aves domésticas. No Velho Mundo, são 13 as espécies descritas, necessitando de esclarecimentos epidemiológicos. Não se encontrou nenhuma infectada pelo T. cruzi. A espécie mais conhecida dentre estas é Triatoma rubrofasciata, que é cosmopolita e encontrada em regiões portuárias.